Zona de interesse: mensagens subliminares explodem mais do que bombas


Zona de interesse é um filme com personagens históricos e tem como personagens Rudolf Höss, comandante do campo de concentração de Auschwitz, e sua família. Mesmo assim, e apesar da atencipação da História, temos alguns pequenos spoilers.


Há um meme, da época do Facebook, que mostra uma foto de uma cidade, São Paulo. De um lado de um muro, uma fabela e do outro, um prédio de luxo. A ideia de denunciar a desigualdade social é clara, mas o que nos interessa é a estrutura de poder, claramente isolando realidades em cenários distintos. A cena é opressiva por que a fotografia captura a imagem de forma que o lado “menor” oprime o outro lado com um arranha-céu e brilho.

Quando você assiste Zona de Intereste, filme baseado na obra de Martin Amis e dirigido por Jonathan Glazer, você tem essa mesma divisão de cenários causados por uma situação de opressão e isolamento. Ao contrário da maioria dos filmes sobre o Holocausto, não há cenas de violência ou imagens de sofrimentos físicos das vítimas. Pode ser comparar com A lista de Schindler. Nele, o escopo gigantesco do Holocausto é mostrado por Spielberg de maneira a apelar ao emocional. É algo explícito, que ocupa a tela com grandiose. Cadáveres são empilhados e excuções sumária são destacadas em cena. Em Zona de Intereste, quase toda ação acontece na casa da família alemã (a de Rudolf Höss) , vizinha ao campo de concentração de Auschwitz.

Ralph Fiennes em A Lista de Schindler


É um filme de interiores, tanto pelo cuidado com a construção da imagem e cenário, que lembra um pouco Parasita, quanto pelos personagens que poderiam pertencer a um desses dramas suburbanos: uma família burguesa com pequenas preocupações, quase banais. Apesar da área aberta da casa, com jardins, eles estão confinados ao ponto da personagem principal dizer que a casa apenas parece ser grande. Mas, as cores desaturadas, sem vida, apesar da riqueza de elementos que mostra, e os sinais quase que sublinares (o som de tiros ao longe, filete de fumaça negra no horizonte) inverte o jogo. Se o interior do campo de concentração não é mostrado em cena, sua presença é constante, oprimindo e adoencendo a família alemã.


A história é simples: a promoção do marido que forçaria a família a mudar-se para outra cidade. Ou ao menos, a história aparente revelada em diálogos superficiais. As mulheres falam das compras e novos vestidos, os homens mostram planos de expansão do trabalho. O contexto é que importa. Assim como o som e o visual faz com o que o Holocausto invada a cena de maneira subliminar, o diálogo banal também esconde essa história maior. As compras não visitas à lojas de departamento, mas trantam-se do leilão dos pertences das famílias judías aprisionadas e o trabalho é o aprimoramento dos fornos usados para assassinar os prisioneiros.

Então, parece ser apenas um filme sobre o holocausto, original em apelar para a construção de significado por uma combinação inovadora de técnicas audiovisuais.


Pode ser e seria um ótimo filme para ensinar o que foi o holocausto para o governo de Israel, o mesmo governo que pode ter saturado o espírito da audiência com o tema, ao mesmo que reproduz ações genocídas na Palestina, reduzindo a disposição para assim algo relacionado.

Seria uma pena. Pode ser que o tema do filme fosse específico. Não importa. O que acontece, e é o principal com a arte, é que, quando o roteiro usa situações cotidianas para representar a família alemã, que poderiam ser transpostas para qualquer contexto histórico e social,  ele universaliza a situações que levam a opressão e ao genocídio.


Em qualquer uma dessas situações, um grupo social suporta discursos de ódio por que pelo interesse em algo que não possuem e têm a oportunidade de conseguir ao tomarem de uma minoria, e ostentar esses pequenos desejos, simbolizados por bens materiais. Eles sublimam a anormalidade dos mecanismos de poder usados para sustentarem essa situação. Seja ele o discurso de classe social que se decide quem pode ou não viajar para a Disney, o antesetismo ou o zionismo. Ao mostrarem que a família comum alemã, ou seja qualquer família, se acomodou para apoiar Hitler, Zona de Interesse, demonstra que qualquer família, brasileira, americana, israelita também pode fazer o mesmo e que o holocausto também pode ser todos os genocídios que ocorraram antes e continuam acontecendo.


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