The Walking Dead: não é você, sou eu

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Terminou o relacionamento. Melhor dizendo: a oitava temporada de The Walking Dead e finalmente o combate entre Rick e Negan chegou ao fim. É assim que digo adeus, a série vai para um lado (a nona temporada está mais do que confirmada) e eu vou para outro. Tudo certinho: eu levo os livros e eles ficam com o cachorro.

Mas não fique chateado, The Walking Dead, não é você, sou eu.

Eu que cansei de ver os personagens mudarem uma chavinha que vai de “matar, matar, matar” para “poupar, poupar, poupar”.

Eu que cansei de ver a série tentar resolver nosso relacionamento com fanfarra: caixas de chocolate, bebedeira e muita violência, esquecendo-se de dar atenção aos pequenos detalhes do dia-a-dia.

Eu que cansei de aguentar você tentando constantemente provar que é mais esperto do que eu e ao invés de se divertir comigo, procurar divertir-se às minhas custas.

Reconheçamos: nenhum de nós está ficando mais jovem. A vida é curta, o tempo escasso e você não é a única série na praça.

Pois é, não deu mesmo.

O episódio final da temporada (Wrath) foi estranho. Sinal do cansaço causado pelos dois anos de confrontos entre Rick e Negan, com constantes reviravoltas que não saíam do lugar, constantes clímax e picos de intensidade. O episódio foi rápido, seco e até mesmo xoxo. Dizer que era previsível é irrelevante (não apenas seguiu os quadrinhos, mas, vamos lembrar que o primeiro episódio da temporada já mostrava parte desse final) e isso nem seria um problema. Eugene traiu Negan, sabotou as balas, e deixou os Saviors sem defesa, facilitando o trabalho de Rick, Maggie e aquele cara que era um rei.

Rick e Negan resolveram tudo na base de uma briga de adolescente. Um contra o outro, no punho, no taco de baseball e nos cacos de vidro. Mais uma vez a burrice guiou os dois líderes: Rick disparou seus tiros antes de se aproximar de Negan e depois, apesar de conhecer Lucille bem demais, correu feito um idiota para cima do adversário. Negan parou para dar segundos de tagarelice para Rick – uma espécie de inversão dos papéis – e ele, como um Ninja usou um caco de vidro para cortar a garganta do adversário, apenas o suficiente para derrubá-lo, mas não para matá-lo. Aparentemente, nem para deixá-lo mudo.

Ah, Maggie queria vingança e você vai dizer que Rick, em mais uma dessas mudanças morais instantâneas da série, quer construir um mundo mais justo. Negan será símbolo desse novo mundo, ou da justiça deste mundo, pois justiça é sinônimo de civilização. Ele tem de ser punido e, de certa forma, esse é bem o tipo de justiça que um xerife do interior americano acreditaria: coloca esse punk na cadeia para os outros entenderem que têm de se comportar.

O problema da série não é ter uma moral maniqueísta. É apresentar as escolhas morais sem consequências para os personagens (exceto Morgan, mas é melhor nem comentar). Sei que a histórias de mortos-vivos não são exatamente o palco ideal para debates morais inteligentes e pobre de quem espera algo profundo nesta área, mesmo quando a proposta da obra “mãe” dos mortos-vivos modernos, Eu sou a Lenda, de Richard Matheson faça exatamente um questionamento sobre quando é lícito matar para sobreviver, mas é cansativo ver essa alternância moral entre os personagens de acordo com a conveniência do enredo.

E neste caso, a moral final não é sequer algo justificável. Não estou colocando em dúvida o sucesso final de Rick, o ponto é que não há justiça nenhuma nesta nova civilização. O vencedor em uma briga de colégio determinou a pena do perdedor. O que era exatamente o que Negan fazia. Negan também acreditava estar criando ordem e reconstruindo a civilização. Era um governo muito estrito e que cobrava taxas altas, mas o que Rick sempre ofereceu? Um governo também centralizado, menos organizado, mas que demandava do cidadão sacrifícios por projetos que, muitas vezes, eram barcos furados: vide a parada de mortos vivos que abriu a sexta temporada.

Não há um ganho moral, há uma vitória do mais forte. Isso, até que Rick encontre outro vilão, que force mais uma mudança de personalidade, a repetição dos mesmos pontos de vistas (mas por personagens diferentes, ou alguém deixou de perceber que Jesus termina o episódio como se estivesse apoiando a demanda de Maggie pela morte de Negan? O mesmo Jesus, que duas cenas antes, no meio do combate, parou para desligar o Morgancop?) e tudo aconteça novamente.

A única diferença é que eu não estarei lá para ver. Tchau The Walking Dead.

João Camilo de Oliveira Torres – Quem quiser me ouvir falando de séries e filmes baseados em HQs, basta clicar aqui e acompanhar o X-POILERS!


#thewalkingdead

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